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terça-feira, 6 de março de 2012

O FUNDAMENTALISMO ISLÂMICO PARTE 1

Da revolução iraniana de 1978-1979 à bomba que explodiu em 1993 no World Trade Center, em Nova York, o fundamentalismo islâmico tornou-se uma questão de interesse e preocupação internacionais. Trata-se de um movimento religioso de base ampla, mas diversificada, que há duas décadas varre grande parte do mundo muçulmano, do norte da África ao sudeste da Ásia. O fundamentalismo islâmico contemporâneo manifestou-se na vida pessoal e política, abrangendo aspectos que vão desde a maior ênfase na observação de preceitos religiosos, como oração e jejum, passando pelos vestuários e os valores familiares, até a reafirmação do Islã na política. A expressão fundamentalismo Islâmico, embora muito usada, pode ser enganosa. A palavra fundamentalismo está carregada de pressupostos cristãos e estereótipos ocidentais, e implica uma ameaça monolítica. Expressões mais exatas seriam revivescência islâmica ou ativismo islâmico, que estão menos impregnadas de valores e têm raízes numa tradição de reforma política e participação social. A FÉ E AS HISTÓRIAS MUÇULMANAS proporcionaram as fontes para uma visão mundial das atividades islâmicas. O muçulmano tem o dever de obediência e submissão (islã) à vontade de DEUS. Mas a submissão devida pelo muçulmano não é a simples passividade ou aceitação de uma série de dogmas ou rituais; é antes a sujeição ao mandamento divino, à luta (jihad) para realizar ativamente a vontade de DEUS na história. Assim, o corão declara que os muçulmanos são os representantes de DEUS na terra, que ao criar a humanidade DEUS lhes deu uma incumbência e que a realização da vontade divina leva à recompensa eterna, ou ao castigo. A obrigação muçulmana de realizar a vontade de DEUS tanto é comunal como individual. A comunidade islâmica – ou o estado islâmico – serve como veículo dinâmico para a realização do mandato divino na sociedade, como exemplo aos outros povos do mundo. Os ativistas islâmicos acreditam que a religião está integrada em todos os aspectos da vida: oração, política, direito, sociedade. Essa convicção reflete-se não só na doutrina da tawhid (unicidade de DEUS, ou monoteísmo), como também no desenvolvimento do estado e do direito islâmico. No primeiro estado islâmico, em medicina, no século VII, Maomé foi ao mesmo tempo profeta e líder político da comunidade/estado. O direito islâmico, a Shar'iah, tem raízes na revelação divina, o corão e a Suna (no exemplo, ou comportamento modelar, do profeta). O direito proporciona as diretrizes para a sociedade muçulmana, um modo de vida abrangente com leis que regulam a oração e as esmolas, e também a família, a punição ao crime e as transações comerciais e internacionais. A convicção de que a natureza e a missão da comunidade são divinamente ordenadas foi confirmada e fortalecida pelo sucesso e poderio muçulmanos. Cem anos depois da morte de Maomé, a comunidade islâmica original se tinha tornado um império maior do que qualquer outro. Com o tempo, o mundo islâmico estendeu-se da Arábia até o norte da África e a Espanha, na direção do Ocidente, e até a Indonésia, no Oriente. Sucesso e poder eram considerados como sinais da orientação divina e como recompensa pela fidelidade da comunidade. A atual revivescência islâmica baseia-se num considerável legado de reforma. Nos séculos XVIII e XIX ocorreram movimentos político-religioso em todo o mundo islâmico, em reação à fragmentação política e ao declínio econômico, social e moral. Um tema comum era a necessidade de purificar o Islã pela eliminação de práticas estranhas (ou não-Islâmicas) e pelo retorno aos fundamentos do Islã – o corão e o modelo de Maomé e da comunidade muçulmana original. Na primeira metade do século XX surgiram a Irmandade Muçulmana no Egito e a Jamaat-i-Islami (sociedade Islâmica) no sul da Ásia, que se tornaram protótipos dos movimentos islâmicos de hoje. A revivescência Islâmica aguçou-se na década de 1970. Seu aspecto pessoal refletiu-se na maior ênfase dada à observação religiosa (freqüência às mesquitas, jejum do Ramadã, proibição do álcool e do jogo), à proliferação da literatura religiosa e à criação de novas associações e movimentos que procuravam "islamizar" a população. Ao mesmo tempo, o islã reapareceu dramaticamente na vida pública. Em todo o mundo muçulmano, os símbolos, palavras de ordem, ideologia e agentes islâmicos tornaram-se elementos destacados na política. A religião foi usada tanto pelos movimentos oposicionistas para reforçar sua legitimidade e mobilizar apoio popular. As causas desse ressurgimento são múltiplas. Uma série de fracassos – a guerra árabe-israelense de 1967,os levantes malaio-chineses em 1971, a guerra de secessão entre Bangladesh e Paquistão em 1971 e a guerra civil libanesa de meados da década de 1970 – serviu como elemento catalisador. Em conseqüência desses acontecimentos, os muçulmanos experimentaram um sentimento de impotência e uma perda da auto-estima, bem como uma desilusão com o Ocidente e com governos que não compreenderam as necessidades de suas sociedades. Fatos posteriores, como a guerra árabe-israelense de 1973, o embargo do petróleo árabe e a revolução iraniana de 1978-1979, provocaram um novo sentimento de orgulho e poder.

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